As recentes mudanças anunciadas pelo governo federal no financiamento habitacional, como o aumento do teto do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) para R$ 2,25 milhões e o retorno da Caixa Econômica Federal ao financiamento de até 80% do valor dos imóveis, reacenderam o otimismo no mercado imobiliário.
Para Antonio Setin, fundador e presidente da Setin Incorporadora, sócio fundador da Mundo Apto e conselheiro da ABRAINC, o movimento representa um estímulo importante para o setor e a classe média, que volta a ter acesso a condições mais equilibradas de crédito, mas ainda não é suficiente para mudar o jogo.
Em entrevista exclusiva para o portal da ABRAINC, Setin aborda também os desafios impostos pelos juros ainda elevados, o papel crescente da tecnologia e suas expectativas para a trajetória do mercado em 2026.
Confira abaixo a entrevista exclusiva completa:
O setor imobiliário parece estar entrando em um novo ciclo de expansão. Quais são os sinais mais claros dessa virada?
As recentes mudanças no crédito habitacional, somadas à expectativa de redução da Selic em 2026, criam um ambiente mais favorável para a tomada de decisão. As famílias impactadas enxergam melhores condições para planejar a compra do imóvel e as incorporadoras, por sua vez, retomam projetos que estavam represados.
Mas é importante ter cautela na análise, uma vez que ainda temos patamares de juros de financiamento proibitivos para muitas famílias. O desafio é manter o ritmo sem gerar distorções. Crescimento saudável e previsível é sempre mais sustentável do que picos momentâneos. Os anúncios recentes do governo trazem alguns brasileiros de volta para o mercado de imóveis, mas, para que o impacto seja significativo, precisamos da redução dos juros.
Mesmo com avanços no crédito, os juros ainda estão altos. Como isso impacta a estratégia das incorporadoras?
Os juros continuam sendo o principal fator de restrição no mercado. Quando a taxa básica permanece acima de 10%, o custo do financiamento ainda pesa muito para o comprador e também para o incorporador, que precisa equilibrar as margens e o ritmo de lançamentos. Por isso, as empresas têm buscado mais eficiência, otimizando projetos e oferecendo produtos mais bem dimensionados ao poder de compra do cliente. A competitividade está menos em vender mais caro e mais em entregar o que cabe no bolso sem perder qualidade.
O crédito habitacional ampliado tende a beneficiar principalmente a classe média. Quais oportunidades surgem nesse segmento?
A classe média é o grande motor do setor. Quando volta a ter acesso a crédito previsível e a prazos longos, o mercado inteiro se movimenta. Esse público busca localização, segurança e praticidade, e está mais sensível ao custo total do imóvel do que antes.
As oportunidades estão em produtos inteligentes com plantas funcionais, áreas comuns bem planejadas e tecnologias que reduzam custos de manutenção. As incorporadoras que entenderem esse comportamento terão vantagem competitiva nos próximos anos.
De que forma a tecnologia e a inovação estão transformando o modo de desenvolver e vender imóveis?
Hoje, a digitalização atravessa toda a cadeia, da concepção do projeto à assinatura do contrato. O uso de dados para entender a demanda, de inteligência artificial para precificação e de plataformas digitais de vendas já é uma realidade.
Na Setin, por exemplo, temos utilizado ferramentas de modelagem de cenários e de gestão integrada de portfólio, o que permite avaliar o potencial de um terreno ou projeto antes mesmo de iniciá-lo. Além disso, a aplicação de melhores ferramentas de desenvolvimento de projetos e gestão de obras têm feito a diferença no quesito eficiência. Isso reduz riscos, aprimora processos e possibilita oferecer produtos mais aderentes ao perfil de cada público.
Quais são suas expectativas para o mercado imobiliário em 2026?
A expectativa é positiva. Com a provável redução dos juros e a consolidação das novas regras de financiamento, o setor deve ganhar ritmo consistente. Devemos ver um aumento gradual nos lançamentos e uma melhora nas vendas, principalmente em imóveis de médio padrão. Acredito que 2026 será um ano de retomada com uma base sólida - sem euforia, mas com confiança.
O que precisamos é de estabilidade econômica e previsibilidade nas políticas de crédito. Com isso, o mercado tem tudo para seguir sendo um dos principais vetores de crescimento e geração de empregos no país.
O que seria essencial para tornar esse ciclo de expansão mais sustentável a longo prazo?
Sustentabilidade no setor não é apenas ambiental, mas também econômica e social. Precisamos equilibrar três pontos: acesso ao crédito, controle de custos e planejamento urbano eficiente.
Se tivermos queda de juros, incentivos responsáveis e um olhar mais atento à infraestrutura das cidades, o crescimento do setor será duradouro e inclusivo. O mercado imobiliário tem um papel decisivo na economia e, se bem conduzido, pode ajudar o país a crescer com equilíbrio.
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